‘Esporte é para todas as pessoas’: a polêmica em torno da primeira atleta transgênero a competir nas Olimpíadas

0
4510

Para especialista, faltam estudos que demonstrem se mulheres trans têm algum tipo de vantagem sobre suas concorrentes por terem tido um desenvolvimento corporal como homens no passado. Laurel Hubbard foi a primeira atleta trans a competir nas Olimpíadas
Reuters/Edgard Garrido
A atleta neozelandesa Laurel Hubbard entrou para a história nesta segunda-feira (2) nos Jogos de Tóquio, ao se tornar a primeira esportista transgênero mulher a participar de uma disputa olímpica, mas não conseguiu se classificar para a final da categoria +87kg ao falhar nas três tentativas.
Sorridente e emocionada, Hubbard iniciou a disputa com uma barra de 120 kg e, depois, uma segunda e terceira de 125 kg. Como não conseguiu completar nenhuma das tentativas, ficou fora da disputa por medalhas.
A atleta de 43 anos que competiu na categoria masculina antes de fazer a transição após completar 30 anos, provocou um debate por sua convocação, depois de cumprir os critérios do Comitê Olímpico Internacional (COI).
Após sua saída do torneio, Hubbard deixou uma breve mensagem à imprensa, que começou com um agradecimento ao povo e governo japonês por sediarem os jogos nessas circunstâncias extraordinárias e às organizações que permitiram sua participação.
“É claro que não estou totalmente alheia à controvérsia em torno da minha participação”, afirmou.
“Por isso, gostaria de agradecer especialmente ao COI por ratificar seu compromisso com os princípios do olimpismo e estabelecer que o esporte é algo para todas as pessoas, que é inclusivo e acessível”, acrecentou.
“Gostaria de agradecer a Federação Internacional do Levantamento de Pesos. Eles me apoiaram extraordinariamente e acredito que comprovaram que o levantamento de peso é uma atividade aberta a todas as pessoas do mundo. Obrigada”, disse Hubbard, antes de se retirar para o vestiário sem responder mais perguntas.
O Comitê Olímpico Internacional (COI) celebrou sua participação nos Jogos como mulher trans.
“Laurel Hubbard é uma mulher e compete sob as regras de sua federação. Devemos homenagear sua coragem e perseverança”, disse à imprensa o diretor médico do COI, Richard Budgett, em Tóquio.
Os apoiadores de Hubbard afirmam que sua classificação para os Jogos representa uma vitória para a inclusão e para o direito das pessoas transgênero.
Outras pessoas alegaram que teria uma vantagem injusta sobre as rivais, por suas capacidades físicas herdadas de décadas atrás, quando competia como homem.
Pela primeira vez na história, uma atleta transgênero vai participar das Olimpíadas
O debate sobre o tema é intenso e, em alguns momentos, acalorado, especialmente na internet. Isso levou o Comitê Olímpico da Nova Zelândia a adotar medidas para proteger Hubbard.
Ao mesmo tempo em que celebrou o aspecto inclusivo da participação da atleta, o COI reconheceu, no entanto, que a presença de Hubbard levantava algumas questões legítimas sobre se Hubbard tem, no jargão usado pelo organismo para estes temas, uma “vantagem competitiva desproporcional”.
Para o médico Richard Budgett, não é tão simples comparar homens e mulheres. Além disso, as mulheres transexuais podem vivenciar uma diminuição do desempenho, à medida que passam pelo processo de transição. O mais importante, para ele, é produzir mais pesquisa sobre o assunto.
“Considero que não houve mulheres abertamente transexuais no mais alto nível até agora e acho que o risco para o esporte feminino foi, provavelmente, superestimado”, acrescentou.
O COI reconhece que o novo marco, que fornece pautas simples para as federações internacionais em vez de regras rígidas, não é a última palavra sobre este assunto, que continuará sendo debatido por muito tempo.
“É preciso haver uma maneira justa de obter o que precisamos e, seja qual for esse equilíbrio, é provável que alguns o critiquem. Não será a solução definitiva”, afirmou o porta-voz do COI, Christian Klaue.
Initial plugin text

Fonte: G1 Mundo